Whey protein, glutamina, bcaa, multivitamínico e outros. Estes são alguns dos suplementos alimentares mais utilizados por quem busca melhorias estéticas e na saúde. Este mercado crescente é bilionário. Só nos Estados Unidos movimenta cerca de U$ 30 bilhões por ano. No Brasil são quase R$ 2 bilhões movimentados anualmente.  Eles são produzidos quimicamente e existem milhares de marcas, com diferentes propostas e composições no mercado. Nos anos 90, o FDA (Food and Drug Administration - agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos) definiu como suplementos alimentares aqueles produtos, que têm em sua fórmula algum ingrediente alimentar adicionado (vitaminas, minerais, ervas ou outros vegetais, aminoácidos, enzimas, dentre outros), e deve ser administrado por via oral tendo por objetivo complementar a dieta. Seja pela praticidade, pela carência na alimentação ou pela necessidade de aumentar alguma substância no organismo, estes produtos vêm sendo procurados por diversos perfis, idades e classes sociais, principalmente pelos adeptos da musculação que visam aumento de massa muscular e diminuição de gordura corporal.

Existem diversos tipos de suplementos. Podemos citar os Repositores Hidroeletrolíticos - possuem carboidratos e eletrólitos. Seu objetivo é a reposição de líquidos e sais que são perdidos perdidos durante a transpiração; os Repositores Energéticos – têm carboidratos em sua composição junto de vitaminas e minerais. Servem para mantém o nível correto de energia durante o exercício; Alimentos Proteicos – compostos principalmente por proteína, podendo conter gorduras e carboidratos. Servem para a recomposição da fibra muscular após os treinos; Aminoácidos de Cadeia Ramificada – possuem aminoácidos essenciais (que o corpo não produz), são consumidos por atletas que praticam atividades físicas longas.

Daniel Oliveira tem 23 anos e a musculação faz parte da sua vida há desde os 11. Treinando por hobby e por saúde, o estudante - morador de Porto Alegre - conta que começou a utilizar suplementos alimentares no início de sua vivência com as academias, depois parou, e cerca de seis meses atrás voltou a inseri-los na rotina. O jovem, que hoje consome whey, bcaa, entre outros, explica que no início de seu contato com os produtos, não entendia muito bem o real propósito, “Fiz uso por curiosidade de iniciante, no intuito de crescer fisicamente. Achava que seria milagroso, porém, no decorrer do tempo fui percebendo que não era aquilo que eu espera ser, e sim um complemento alimentar que ajuda a suprir nutrientes que não conseguimos ingerir no dia a dia”. O estudante, que faz acompanhamento com nutricionista, não troca refeições por suplementos e vê os resultados sempre favoráveis com o uso, “sempre tive experiências positivas e sempre procuro pesquisar e tirar minhas dúvidas de diferentes maneiras”.  

Daniel faz parte da população que vê na musculação aliada à suplementação, uma maneira prática de manter a saúde e a alimentação adequada. Junto dele, estão inúmeras pessoas ao redor do mundo, muitos tendo a prática como aliada na profissão. Marissol Rios tem 34 anos e trabalha como Health Coach (profissionais que ajudam pessoas a ficarem mais saudáveis em todas as áreas da sua vida, trabalhando o lado da nutrição, atividade física e controle emocional). A psicóloga, teóloga, coach e nutricionista em formação pratica musculação desde os 24 anos e de quatro anos para cá, profissionalmente. Desde 2013, a coach, que já sofreu com a compulsão alimentar e o sedentarismo, acumulou 15 prêmios de fisiculturismo. O Fisiculturismo é uma pratica que visa o desenvolvimento dos músculos corporais a partir da hipertrofia, ou seja, aumento no volume da massa muscular, que começou a ser disseminado na década de 90. Dentre os troféus da paulista estão campeonatos mundiais, sul americanos, regionais e nacionais. Para ela, as diferentes suplementações sempre trouxeram resultados positivos e estão alinhadas com sua rotina de trabalho, treinos e estudos, “Cada suplementação tem seu momento certo de ser usado. O bcaa eu costumo usar durante o treino, por exemplo, a cafeína antes do treino e a glutamina após o treino e antes de dormir”, explica. Marissol conta que percebeu aumento no uso dos produtos em sua convivência, “Certamente a sociedade está se preocupando cada vez mais com a saúde e certamente isso aumenta a busca pela suplementação“.  Ao contrário da atleta, o vendedor da loja de suplementos Max Nutri, Douglas Messias, percebeu uma queda nas vendas em lojas físicas. O comerciante, que trabalha na área há sete anos, acredita que isto seja em função das vendas online e da procura por mudanças na alimentação “a internet tomou muito espaço no mercado das lojas físicas. Além disso, alguns nutricionistas estão trabalhando conceitos novos de nutrição funcional, inserindo cada vez mais comida na alimentação e tirando os suplementos. O setor dos naturais aumentou bastante, triplicou de 2015 pra cá”, comenta. Em suas vendas, Douglas destaca o whey protein como o mais procurado pelos consumidores. O whey é a proteína extraída do soro do leite e pode ser dividido em concentrado, isolado e hidrolisado, cada um com suas especificações e indicado para diferentes perfis de praticantes da musculação. O Objetivo é o mesmo: ganhar massa muscular, utilizando o suplemento para suprir as necessidades diárias de proteínas, o que muda são as características de cada um, principalmente com relação à filtragem. O bcaa, segundo no ranking dos mais procurados é constituído pelos aminoácidos essenciais para a proteína, que incluem a leucina, valina e isoleucina. Em conjunto, estes três s formam cerca de 1/3 das proteínas musculares e são essenciais para o crescimento e desenvolvimento muscular.

Joelso Peralta, Nutricionista Esportivo há mais de 13 anos e professor da Universidade La Salle, é favorável ao uso de suplemento alimentar, o que em sua área é chamado de “recurso ergogênico nutricional”, “Os benefícios dos diferentes suplementos esportivos são inúmeros, desde que bem utilizados. Por exemplo, Whey Protein contém lactoglobulinas que possuem atividade antimicrobiana/antibactericida e glicomacropeptídeos que estimulam a secreção de CCK (colecistoquinina) - que atua da digestão dos lipídeos e proteínas da dieta - e GLP-1 (peptídeo similar ao glucagon) - que é supressor do apetite. Os suplementos de L-Arginina, por exemplo, formam NO (óxido nítrico) pela reação da NO sintase endotelial, que possui um efeito vasodilatador e protetor cardiovascular”, cita. O Nutricionista, que é coordenador de uma equipe formada por nutricionistas, médico e profissionais de Educação Física, ressalta algumas coisas que devem coisas a ser observadas durante o uso dos produtos. Uma delas é com relação a sua quantidade e tempo de uso. Peralta lembra da frase atribuída à Paracelso, médico e fisico suíço-alemão (1493-1541): "A diferença entre o remédio e o veneno está na dose". “O uso bebidas esportivas (Sports Drinks), incluindo maltodextrina e dextrose, fornecem energia ao esforço físico, aumentam os depósitos de glicogênio muscular e reduzem a fadiga. Todavia, seu uso errado pode favorecer facilmente o ganho de peso em adiposidade, um fato relacionado ao índice glicêmico elevado do produto e seu aporte calórico igualmente elevado”, explica.  

A cafeína é um composto químico classificado como alcalóide, é extraída geralmente de plantas e pertence ao grupo das xantinas. Muitos adeptos da musculação a utilizam por seus efeitos, que incluem maior concentração, melhora do cansaço físico, aceleração do metabolismo, estimulação do sistema nervoso central, etc. Peralta lembra os cuidados que se deve ter durante o uso de cafeína no exercício e no esporte, “Seu uso inadequado causa inúmeros problemas de saúde, incluindo taquicardia, aumento da pressão arterial, arritmias, ansiedade, nervosismo, insônia, aumento do volume urinário e secreção aumentada de ácido gástrico”. Para concluir, Peralta reforça a importância do acompanhamento e supervisão de um profissional nutricionista, que deve ser o especialista pela prescrição de suplementos e complementos nutricionais dentro de um plano alimentar personalizado.

O personal trainer Lucas Oliveira, que trabalha como profissional de Educação Física há 14 anos, também observou um maior contato com os produtos por parte dos alunos.  “O consumo de suplementos alimentares cresce a cada ano desde 1994, após a definição do FDA”. Para ele, o único malefício que os produtos podem trazer, é o seu uso inapropriado, “Qualquer substância alimentar, assim como suplementar, ingeridas em quantidades impróprias e sem a orientação de um profissional especialista na área (Nutricionista, Nutrólogo, Endocrinologista, Homeopata ou Holistic Nutritionist) pode colocar sua saúde em risco”. O paulista, que é Especialista em Treinamento e Técnico em Gestão de Negócios no Esporte percebe que a satisfação ou não dos alunos depende de como ele enxerga o suplemento, “As pessoas mais esclarecidas, entendem que investir em suplemento é o mesmo que investir em alimentação, pois a conseqüência da sua utilização, quando bem orientado e aliado com a alimentação refletirá na saúde e consequentemente na estética”. Para Lucas, existe uma falha na rotulagem de alimentos e suplementos no Brasil, “falta uma padronização das informações nutricionais em relação a composição das substâncias e gramatura.  Por conta disso, poucas pessoas utilizam as tais informações nutricionais no momento de escolher um alimento na gôndola do supermercado, comprando produtos que, se elas observassem sua composição na íntegra, talvez muitas deixariam de comprar”, conclui.

Não são apenas os praticantes de exercícios que utilizam suplementos alimentares em sua dieta. Bárbara Krefta tem 29 anos e há pouco mais de um ano descobriu sua intolerância à lactose (causada pela deficiência da enzima chamada ‘lactase’, responsável por quebrar as moléculas de lactose e convertê-las em glucose e galactose). A estudante de biologia começou a consumir a lactase vendida em farmácias manipuladas. O consumo é feito sempre 30 minutos antes de ingerir algo que contenha leite. “Eu gosto muito de laticínios e acabo ingerindo eventualmente, como não tem cura (A intolerância a lactose) optei por usar o suplemento”, explica. O suplemento é muito conhecido e pode ser encontrado na forma líquida ou em cápsulas. Com relação à eficácia, a futura bióloga não está totalmente satisfeita, “Não atende totalmente minha expectativa, mas melhora a questão dos sintomas”. Além da lactase, a jovem faz uso, todas as manhãs, de suplementação para crescimento de unhas e cabelos, que são queridinhos por muitos. Para bons resultados, assim como com os praticantes da musculação, os consumidores destes produtos devem ter uma alimentação saudável, aliando vitaminas, antioxidantes e minerais naturais à suplementação.

Devemos lembrar que todo cuidado é pouco ao ingerir produtos industrializados, com suplementos o mesmo ocorre. Recomendamos a procura por especialistas antes de ingeri-los sem prescrição. O acompanhamento com profissionais é imprescindível para ter saúde e alimentação equilibradas.

 

REGULAMENTAÇÃO NA ANVISA

 

Em 2017, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) propôs um novo marco regulatório para suplementos alimentares. Apesar de serem muito conhecidos por todos, os suplementos não possuem categoria prevista na legislação sanitária brasileira. A proposta define como suplemento alimentar qualquer produto de ingestão oral de cunho farmacêutico que vise suplementar a alimentação com nutrientes, enzimas, substâncias bioativas ou probióticos, combinados ou isolados. O objetivo é deixar mais claros os critérios de regularização e requisitos dos produtos. Hoje, os itens encontram-se em seis categorias de alimentos e outros, de medicamentos. Com a proposta, todos estarão na mesma categoria. Uma das principais mudanças é com relação às formas de avaliar a segurança e eficácia destes produtos. De acordo com a Assessoria de Imprensa da ANVISA, o risco está em utilizar produtos sem saber sua procedência e sem auxílio de um profissional, “Muitos produtos comercializados ilegalmente no Brasil podem conter substâncias que são prejudiciais à saúde, como extratos de plantas, hormônios etc. Alguns produtos regulamentados devem ser consumidos sob orientação de um profissional e somente para a finalidade a que se destina como, por exemplo, o suplemento de cafeína para atletas que pode causar efeitos adversos em indivíduos sensíveis à cafeína” explica a agência em nota.

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