Cosméticos e acessórios utilizados nas festas de Carnaval são compostos por diversas substâncias Químicas.



Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), cerca de 35% da população brasileira vive com algum tipo de alergia que pode intensificar-se com o uso de produtos tóxicos. As alergias são reações do sistema imunológico a certas substâncias, como por exemplo: fungos, medicamentos, pêlos de animais e cosméticos Elas não têm cura, porém, podem ser tratadas para aliviar os sintomas. A melhor maneira de lidar com as alergias é prevenindo e evitando contato com substâncias que contenham um forte histórico alergênico.

Os cosméticos são formulados com diversas substâncias químicas que podem reagir negativamente com o organismo. “São inúmeros os produtos utilizados no Carnaval que podem provocar irritações ou alergias na pele: maquiagens (colofônia, metilparabeno, timerosal, lanolina, bálsamo do Peru), tinturas e sprays para cabelos (butil-hidroxitolueno, imidazolidiniluréia), esmaltes (tonsilamida, formaldeído), perfumes (cloracetamida)”, explica a médica dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Dra Cíntia Pessin. De acordo com a profissional, além dos produtos cosméticos, substâncias presentes em artigos como acessórios e fantasias também podem causar danos à pele. Por exemplo, adereços como perucas (butilfenol-para-terciário), máscaras de borracha (dietilcarbamato de zinco, etilenodiamina, mercaptobenzotiazol), bijuterias (cloreto de cobalto, sulfato de níquel), tecidos sintéticos e estampados (bromonitropropanodiol, bicromato de potássio). “Os tipos de alergia que esses produtos podem desencadear são principalmente dermatite de contato irritativa e dermatite de contato alérgica”, acrescenta Cíntia. Os cuidados com produtos em spray devem ser intensificados “a capacidade de um produto aerosol ser espalhado sobre a pele geralmente é maior do que o de um produto como creme, pó ou loção”, comenta a profissional. A “espuma de neve”,além da possível irritação na pele, tem o mesmo efeito quando em contato com os olhos podendo causar queimadura e lesões na córnea e membrana ocular. A gravidade do trauma vai variar de acordo com a quantidade de substâncias e tempo que estiver em contato com o globo ocular.

Geralmente realizadas em ambientes a céu aberto e durante o dia, as festas de carnaval são iluminadas pelo sol quente das tardes de verão. Além do uso de chapéu, óculos e consumo de água, é preciso estar atento à utilização dos produtos carnavalescos na pele em contato com a radiação solar. “Algumas substâncias são fotossensibilizantes, ou seja, quando aplicadas e expostas ao sol podem causar danos à pele como coceira, manchas ou queimaduras”, cita a dermatologista. O uso de protetor solar pode evitar possíveis insolações, câncer de pele, reações alérgicas e queimaduras causadas por produtos em contato com a pele. Além disso, é recomendado evitar a exposição ao sol em horários em que os níveis de radiação estão elevados.

As crianças, presença confirmada nas festas, necessitam de maior atenção. A sua pele é mais fina e absorve com maior rapidez e intensidade as substâncias. “Como a pele das crianças tem capacidades diferentes de absorção e penetração em relação aos adultos, deve-se utilizar produtos cujo rótulo tenha a palavra ‘infantil’”, explica a Profa Dra Marisa Tsao, química responsável pela Central Analítica da UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre). “Em geral os problemas observados são causados devido ao mau uso dos cosméticos ou produtos de higiene pessoal, como por exemplo, uso de produtos de adultos em crianças ou de produtos parcialmente degradados” menciona a professora. Segundo a Gerência Geral de Cosméticos da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), por serem destinados a este público mais sensível, os cosméticos infantis possuem limites de segurança mais severos. As advertências nas rotulagens são bem observadas também, pois orientam os pais sobre a aplicação destes produtos nas crianças.

Outro fator que pode ocasionar problemas é a utilização de produtos fora do seu prazo de validade ou que tenham sidos conservados de maneira incorreta. “Produtos parcialmente degradados pela exposição ao calor intenso ou oxidação (restos de produtos do veraneio passado, por exemplo), com eficácia reduzida, como no caso de filtros solares ou gerando subprodutos causadores de alergias”, acrescenta Marisa. A conservação destes itens da maneira correta é essencial para manter a qualidade da substância e não alterar sua estrutura físico-química. A Profa lembra que os cosméticos e produtos de higiene pessoal precisam ser mantidos em suas embalagens originais, que utilizam o material adequado para conservá-los. “A função de qualquer embalagem é a de garantir a integridade do produto, pelo prazo de validade, desde que dentro de condições normais de acondicionamento”, explica.

Uma lista com mais de 1300 substâncias que são proibidas na formulação de cosméticos e produtos de higiene pessoal foi atualizada recentemente pelo Ministério da Saúde. Por ser uma lista extensa e de difícil memorização, o importante é usar o bom senso na hora do uso. “Devemos ter em mente que é uma questão de dosagem para se atingir um limite para a manifestação de uma reação indesejada, e que depende da substância e do indivíduo”, ressalta Marisa. Cada organismo tem suas particularidades e reagirá de maneiras diferentes em contato com as mesmas substâncias. O importante é ter cuidado com marcas e laboratórios, quantidade de produto e em que circunstâncias ele está sendo utilizado.

Os produtos que são utilizados em contato direto com o corpo devem estar devidamente registrados na ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), onde passam por uma série de requisitos estabelecidos para garantir sua segurança, evitando, assim, possíveis problemas futuros. A utilização de qualquer produto de procedência desconfiável deve ser evitada para garantir a folia sem problemas de saúde depois.

O procedimento ao se perceber uma reação alérgica é lavar a região afetada com água e buscar orientação médica rapidamente, levando o produto que possivelmente tenha acarretado na reação. Outra alternativa é contatar o Centro de Informação Toxicológica (CIT-RS) [8], pelo telefone 08007213000, que possui atendimento 24 horas.

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