Elton Alisson | Agência FAPESP – Os agentes do sistema nacional de ciência, tecnologia e inovação enfrentam hoje os desafios tanto de conscientizar a sociedade e os tomadores de decisão sobre a importância do financiamento dessas atividades, como também de aumentar seus impactos social, econômico e intelectual.

A avaliação foi feita por participantes da cerimônia de abertura da primeira edição em 2017 do Fórum do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), na quinta-feira (09/03), na FAPESP.

O encontro, que termina nesta sexta-feira (10/03), reúne representantes das Fundações de Amparo à Pesquisa (FAPs) de 25 estados e do Distrito Federal, com o objetivo de debater o financiamento à pesquisa no Brasil e o aumento da cooperação internacional.

Participaram da cerimônia de abertura o presidente da FAPESP, José Goldemberg, representando o governador Geraldo Alckmin; o presidente do Confap, Sérgio Gargioni; o embaixador da União Europeia no Brasil, João Gomes Cravinho; o secretário de políticas e programas de pesquisa e desenvolvimento do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Jailson Bittencourt de Andrade, representando o ministro Gilberto Kassab; o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Mario Neto Borges; o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque; Maurício Juvenal, chefe de gabinete da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo e o vice-presidente e o diretor-presidente do Conselho Técnico Administrativo (CTA) da Fundação, Eduardo Moacry Krieger e Carlos Américo Pacheco, respectivamente.

Em sua fala, Goldemberg destacou três razões pelas quais a ciência e a tecnologia são importantes para países emergentes, como o Brasil. A primeira delas é que mesmo para importação de tecnologias é preciso ter pessoas com suficiente capacitação para escolher a melhor opção que será adotada pelo país.

“O setor privado faz isso o tempo todo e os governos também precisam disso [de pessoas capacitadas] para fazer suas escolhas”, afirmou.

A segunda razão é que países em desenvolvimento têm algumas características próprias que permitem implementar tecnologias que efetivamente não foram exploradas adequadamente pelos países centrais.

Na avaliação de Goldemberg, um dos melhores exemplos nesse sentido, no caso do Brasil, é o do Programa Nacional do Álcool (Proálcool), iniciado em 1975, que incentivou a pesquisa sobre o uso de álcool produzido a partir de cana-de-açúcar como combustível para veículos automotores e o desenvolvimento de novas tecnologias para o setor automotivo, o que possibilitou a produção do biocombustível em larga escala no país.

“Os Estados Unidos iniciaram seu programa para produção de biocombustível nos anos 2000 com características não tão boas quanto as do Proálcool”, comparou.

Já a terceira razão pela qual ciência e tecnologia são importantes para o Brasil, de acordo com ele, é que há pessoas talentosas em todo os lugares do mundo e que avanços nessas áreas ocorrem também em países que não são centrais.

Um dos exemplos dado por ele foi o do físico e químico neozeolandês Ernest Rutherford (1871-1933), que se tornou conhecido como o “pai” da Física nuclear.

“Ele veio de uma colônia britânica e poderia ter desenvolvido as ideias que iniciou onde estava, mas conseguiu fazer isso de uma forma muito melhor quando foi para Cambridge, na Inglaterra”, disse Goldemberg.

“Mas essa situação [da necessidade de se deslocar para realizar pesquisa] mudou e hoje é possível fazer inovações em qualquer lugar do mundo, como aqui no Brasil”, exemplificou.

Falta de clareza

Na avaliação do presidente da Finep, contudo, ainda não há uma clara percepção no Brasil da importância da C, T&I para o desenvolvimento econômico e social do país.

“Passamos por um momento de extrema dificuldade do ponto de vista econômico e me parece que a ciência e a tecnologia estão sendo jogadas na vala comum de outros setores, como o de transporte e infraestrutura, que demandam investimentos que podem ser postergados, sem prejuízos no resultado final”, afirmou Cintra.

“Qualquer país que paralisa seus investimentos em ciência e tecnologia dificilmente irá conseguir recuperar seu espaço perdido nessas áreas, porque o mundo está avançando. Se perdermos a visão da fronteira tecnológica mundial estaremos fadados a ser meras colônias do ponto de vista científico e tecnológico e caudatários no processo de desenvolvimento econômico”, disse.

De acordo com dados apresentados pelo diretor-presidente do CTA da FAPESP, o Brasil tem aumentado seu gap tecnológico em relação ao mundo.

A produtividade do país no período de 1990 a 2014 cresceu apenas 4%, apontou. “É absolutamente impossível conseguir atingir uma trajetória sustentável de crescimento sem que a produtividade do país cresça. Não é possível gerar bons empregos e bons salários com baixa produtividade”, afirmou.

Segundo ele, o fator determinante para o crescimento da produtividade é a inovação tecnológica, que demanda um forte investimento não só nessa área, como também em ciência e tecnologia.

“A produtividade é um fator decisivo tanto para os países desenvolvidos como para os em desenvolvimento. E sem um forte investimento em ciência, tecnologia e inovação, a produtividade do Brasil não vai crescer”, afirmou.

O esforço nacional em pesquisa e desenvolvimento (P&D), entretanto, ainda é baixo em comparação com outros países, situação que foi agravada pela recente crise econômica do país.

Segundo estimativas apresentadas por ele, os dispêndios públicos e privados em P&D no Brasil caíram nos últimos três anos e voltaram ao patamar de 1% em relação ao Produto Interno Bruto (PIB).

“Já havíamos chegado a 1,2% do PIB e há 15 anos os dispêndios eram de 1,1%. Agora regrediu, enquanto vários outros países têm avançado e definido metas mais ambiciosas para aumentar seus gastos em P&D”, comparou.

Um dos fatores que explicam essa retração, de acordo com Pacheco, foi a forte queda da participação da indústria no PIB brasileira – que representa a principal fonte de dispêndio em P&D no país –, o que contribuiu para jogar para baixo os indicadores privados.

Nesse contexto, as Fundações de Amparo à Pesquisa Estaduais (FAPs) desempenharam um papel bastante relevante para manter o apoio à ciência e tecnologia no Brasil, apontou Pacheco.

“As FAPs são responsáveis hoje por entre 20% e 25% do fomento a projetos de pesquisa no Brasil”, ressaltou.

Desafios

Um dos desafios apontados pelos participantes do evento para aumentar os impactos social, econômico e intelectual da C, T&I produzidas no país é aumentar a interação entre governo, empresas e organizações e a ênfase na inovação.

“As empresas têm que ser atores decidindo o jogo, e elas querem ser e ter razões para inovação, mas as condições da economia brasileira não favorecem que façam isso”, avaliou Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.

Outro ponto destacado foi aumentar a cooperação internacional e nacional. “O Confap tem desempenhado um papel importantíssimo nesse sentido ao estimular a cooperação entre as FAPs e incluir projetos colaborativos entre elas em seus acordo de cooperação internacional”, avaliou Brito Cruz.
FONTE: Agência FAPESP

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